O
MAMBIRA, A SURPRESA!
(Yara
Nazaré - 12/05/2001)
Certa
vez, um compadre do meu pai
que residia em uma fazenda,
no interior,
satisfez um pedido meu e presenteou-me
com um mambira.
Admito que eu sempre tive
um gosto um tanto bizarro
na escolha dos meus animaizinhos
de estimação.
Na minha infância, tive,
cachorro, tive um tatu, tive
um soin, tive um besouro que
morava dentro de uma caixinha,
na qual fiz uma porção
de buraquinhos para ele respirar,
tive passarinhos e o meu mambira,
meu amiguinho especial, que
estava sempre enrolado e pendurado
no meu braço como se
fosse uma bolsinha.
Dependendo da região,
o mambira é também
conhecido por melete, jaleco,
mixila, tamanduá-de-colete
e tamanduá-mirim. O
meu era mirim mesmo, pois
era bem pequeninhinho e lindo.
Seu corpo, tinha mais ou menos
uns vinte centímetros
de comprimento e uns dezoito
centímetro de altura
e sua calda, mais ou menos
uns trinta e cinco centímetros
de comprimento, portanto bem
longo e preênsio o que
lhe facilita se enroscar nos
galhos das árvores
e no caso do meu, facilitava
se enroscar no meu braço
e também no meu pescoço.
Na floresta os mambiras, se
alimentam de formigas, cupins
e abelhas, mas o meu gostava
mesmo era de um pedacinho
de pão e biscoitos
e comia também cereais.
Sua cor era bege bem claro
e penso que ele me conhecia
pois quando eu chegava do
colégio ele vinha todo
faceiro, lentamente e quando
eu o segurava ele já
se enroscava no meu braço
como se fosse uma bolsa de
veludo de tão macio
que era o seu pelo. As amigas
da minha mãe, tinham
medo por acharem que ele era
um tamanduá selvagem.
Que nada, era tão bonsinho,
meu mambira! Mas um certo
dia, eu aprontei sem querer
querendo. Chegou uma amiga
da minha mãe para lanchar
e se acomodou no meio do sofá
grande, da sala. Minha mãe
chamou-me para cumprimentá-la
e ela fez aqueles habituais
comentários sobre meu
crescimento, falou que eu
era bonita e inteligente,
perguntou sobre minhas médias
no colégio, sobre o
que eu queria ser quando crescesse,
sobre o que eu mais gostava
de fazer, se estava indo à
missa todos os domingos e
dias santos e eu, respondendo
a tudo, laconicamente, impaciente
para voltar para a tarefa
que eu havia iniciado momentos
antes e que eu adorava fazer
que era colar as fotos dos
meus artistas prediletos,
cantores e atores que eu conseguia
nas revistas que meus pais
compravam, O Cruzeiro, Revista
do Rádio e trocava
imagens também com
minhas colegas no colégio.
Eu colecionava fotos de revistas
dos cantores, Cauby Peixoto,
Ângela Maria, Emilinha
Borba, Carmélia Alves,
dos atores norte-americanos,
Glenn Ford, Errol Flyn, James
Stewart, Rita Hayworth, Doris
Day e Gracy Kelly e da linda
diva do cinema italiano, Gina
Lolobrigida. Tinha pressa
em colar todas as fotos que
eu conseguira para levar meus
álbuns para mostrar
as minhas colegas, no dia
seguinte, no colégio.
E nada da amiga da minha mãe,
largar minha mão. Continuava
a falar sobre meu desenvolvimento
físico, aconselhando-me
sobre a vida, sobre os valores,
sobre os estudos e o comportamento
na escola. E foi aí
que tive a tal idéia
genial. Fazer uma surpresa
a ela que ainda não
sabia do meu novo amiguinho,
o mambira. Quando consegui
que ela soltasse a minha mão,
dei a volta discretamente
e fui até meu quarto.
Procurei meu mambira e lá
estava ele, sobre a minha
cama. Segurei-o com cuidado
em uma mão e voltei
para a sala, mas desta vez,
dei a volta por trás
do sofá onde a amiga
da minha mãe estava
sentada, gesticulando muito
ao contar seus feitos e as
novidades e minha mãe,
a ouvia atentamente e nem
percebeu minha aproximação!
Simplesmente, coloquei o mambira
sobre o dorso do sofá,
deixei-o lá e dei a
volta passando para a frente
da referida visita e fiquei
apreciando a cena. Só
que o mambira, que por sinal
era vagaroso, foi se locomovendo
de mansinho e fez o que eu
jamais imaginaria que ele
fizesse, quando chegou próximo
da amiga da minha mãe.
Em um lance já conhecido
por mim, se enroscou no pescoço
dela com seu rabo preênsil.
Os gritos, foram ouvidos longe.
Ela esperneava sacudindo as
pernas para a frente e para
o alto. Tentou tirar o mambirinha
mas não ousava tocar
nele, só apontava para
o mesmo com todos os dedos
das suas mãos agitadas
e foi quando minha mãe,
preocupada com a cena, me
avistou na sala e gritou para
que eu tirasse o mambira do
pescoço da criatura!
Ela passou mal, a pressão
dela subiu, teve taquicardia
e teve que deitar no sofá
e tomar água com açúcar
e chá de folha de laranjeira
para se acalmar. Mas penso
que ela exagerou, não
precisava tanto alarido! Quando
conseguiu ficar mais calma,
ainda assustada, prometeu
que enquanto aquele “bicho”
estivesse na minha casa ela
não colocaria os pés
lá! Olhou-me com um
olhar de dar medo! E, se não
me falha a memória,
nem quis mais saber de lanchar.
Nem precisa contar que minha
mãe me fez pedir desculpas
e recebi o maior sermão!
Mas garanto que minha intenção
foi somente fazer uma surpresa
à amiga dela. E fui
para o castigo preferido da
minha mãe que era me
colocar ajoelhada, de frente
para o canto da parede, durante
uma hora, sem virar a cabeça
nem sentar sobre as pernas.
E meu mambirinha, ali, juntinho
de mim, solidário ao
meu castigo!