HERANÇA 
                                        DOCENTE!
                                      
                                        (Yara Nazaré - 18/02/03)
                                        Aos sete anos, fui matriculada no Colégio 
                                        Nossa Senhora das Graças, em janeiro 
                                        para iniciar as aulas em 1º de março. 
                                        Era apenas uma criança, mas gostei 
                                        do colégio, das freiras e das minhas 
                                        colegas desde o primeiro momento.
                                        Antes de entrar como aluna no referido 
                                        colégio, eu achava lindo quando 
                                        estava no terraço da minha casa 
                                        e via algumas alunas de lá passarem 
                                        vestidas com seu uniforme e quando comecei 
                                        a frequentá-lo, para mim foi a 
                                        glória!
                                        Cada turminha tinha a sua professora, 
                                        naturalmente uma freira. As aulas de Catecismo, 
                                        quem as ministrava era Irmã Carmosina, 
                                        com quem logo simpatizei. 
                                        Era de baixa estatura, no seu hábito 
                                        preto e comprido, muito carinhosa com 
                                        as pequeninas alunas mas sabeia ser enérgica, 
                                        quando era necessário. Ela foi 
                                        minha professora de catecismo até 
                                        a 4ª série do Curso Primário 
                                        e muito dos valores que aprendi e, temi, 
                                        mas que marcaram muito minha formação, 
                                        devo a essa Irmã. Nunca esqueci 
                                        e sempre contei aos meus filhos, uma lição 
                                        que ela me ensinou sobre a verdadeira 
                                        oração a qual pratico até 
                                        hoje e tenho a certeza que meus filhos 
                                        também. Quando orientava suas alunas, 
                                        sobre o que mais agradava a Jesus, se 
                                        referia a "Oração da 
                                        Atitude", pois segundo a mesma, não 
                                        adiantava rezar, criando calos nos joelhos, 
                                        se no dia a dia, não praticássemos 
                                        a bondade com as pessoas.
                                        Era costume, ela chegar na sala de aula 
                                        com três cartazes grandes enrolados 
                                        como se fossem Mapas Gegráficos. 
                                        Então, chegava a parte temida por 
                                        todas nós. Ela abria os três 
                                        cartazes e os pendurava na parede, nos 
                                        pregos que lá existiam para sustentá-los. 
                                        
                                        No primeiro cartaz, estava pintado um 
                                        Céu, lindo no seu azul com nuvens 
                                        brancas, com Jesus de braços abertos 
                                        e em sua volta, Anjos, Arcanjos e Querubins 
                                        tocando suas harpas e clarins. 
                                        No segundo cartaz, aparecia uma pedreira 
                                        e várias pessoas com as roupas 
                                        rasgadas, carregando pedras sobre os ombros 
                                        e o suor escorrendo pelo corpo sob um 
                                        sol quente e pisando em solo íngreme, 
                                        com os pés sangrando. 
                                        O terceiro cartaz, aquele que nos causava 
                                        pavor, apresentava uma cratera imensa 
                                        com labaredas vermelhas e amarelas saindo 
                                        daquele buraco enorme, onde vários 
                                        pecadores eram ali jogados para serem 
                                        queimados e um bando de diabinhos com 
                                        seus tridentes espetavam cada um deles. 
                                        
                                        O primeiro cartaz, representava o Céu, 
                                        para onde iam, diretamente, as pessoas 
                                        que morriam sem cometer o pecado mortal. 
                                        
                                        O segundo cartaz, representava o Purgatório, 
                                        para onde iam as pessoas que morriam e 
                                        haviam cometido o pecado venial, que era 
                                        um pecado leve e portanto, perdoável. 
                                        Essa pessoa, teria que carregar muitas 
                                        pedras para ser absolvida e merecer o 
                                        perdão de Deus para ter direito 
                                        de entrar no Céu. 
                                        E o terceiro cartaz, aquele dos diabinhos, 
                                        representava o Inferno, para onde iam 
                                        aqueles que haviam cometido o pecado mortal 
                                        e portanto, sem perdão. 
                                        Que medo todas nós alunas, sentíamos 
                                        de cometer pecado mortal e acabar como 
                                        um churrasquinho, espetadas nos tridentes 
                                        dos diabinhos. Não ousávamos 
                                        pecar, nem em pensamentos.
                                        Mas, o mais interessante, é que 
                                        nunca esqueci a Irmã Carmosina. 
                                        
                                        Até da sua fisionomia simpática, 
                                        consigo lembrar até hoje, com muito 
                                        carinho.