GOLPES 
                                        NA BARRIGA!
                                      
                                        (Yara Nazaré - 16/02/03)
                                        
                                        Eu estava com quatorze anos e cursando a 
                                        segunda série do Curso Ginasial. 
                                        
                                        As professoras eram as próprias 
                                        freiras, com exceção do 
                                        professor de latim que era o Monsenhor 
                                        Roberto, que me batizou, com ele fiz minha 
                                        Primeira Comunhão e foi ele também 
                                        quem celebrou meu casamento, o professor 
                                        de inglês, o Sr. Lima Couto, a professora 
                                        de geografia, D. Maria da Penha e a professora 
                                        de francês, D. Cléa Araújo, 
                                        esta, desfrutava da simpatia de todas 
                                        as alunas, pois embora fosse enérgica 
                                        nos tratava com muito carinho.
                                        O sistema de ensino era muito rigoroso 
                                        e nós alunas, estudávamos 
                                        muito. Além das famosas sabatinas, 
                                        provas aos sábados, havia as famosas 
                                        provas parciais, realizadas no final de 
                                        cada semestre do ano letivo. As provas 
                                        eram realizadas em duas etapas, uma prova 
                                        escrita e subjetiva e outra prova oral. 
                                        Quem não alcançasse média, 
                                        em uma ou duas disciplinas, ficava para 
                                        segunda época e só faria 
                                        prova em fevereiro. Quem não alcançasse 
                                        média na segunda época, 
                                        ficava reprovada e repetia a mesma série. 
                                        E quem ficasse sem média em três 
                                        ou mais disciplinas, ficava reprovada 
                                        sem direito a fazer segunda época.
                                        Para a prova oral, a Bancada Examinadora, 
                                        era composta pela Madre Superiora, 
                                        pelo Inspetor de Ensino e pela professora 
                                        da disciplina.
                                        Chegou o dia da prova oral de francês, 
                                        matéria que eu gostava muito e 
                                        dominava bem. 
                                        Minhas médias eram ótimas. 
                                        A Bancada estava lá reunida e a 
                                        professora chamou meu nome 
                                        para sortear o ponto, na caixinha, onde 
                                        estavam os números dos capítulos 
                                        estudados, no livro de francês. 
                                        Cada aluna chamada, sorteava um número 
                                        para ser arguída. Tirei o papelzinho 
                                        com o número 
                                        e entreguei-o à professora que 
                                        mandou abrir o livro, no capítulo 
                                        correspondente e orientou para que eu 
                                        fizesse a leitura, em francês, do 
                                        texto indicado.
                                        Iniciei a leitura e em determinado momento 
                                        a professora interrompeu-me dizendo que 
                                        eu 
                                        fizesse a tradução de uma 
                                        frase que acabara de ler:
                                        "Le garçon dans le goupe 
                                        en la barricade". 
                                        Em seguida, mandou que eu traduzisse a 
                                        frase lida. Fiz a tradução:
                                        "O rapaz dava golpes na... na..." 
                                        Parei aí, gaguejando, pois não 
                                        conseguia lembrar 
                                        da tradução de "barricade". 
                                        Ouvi a voz da professora exigindo pressa. 
                                        Comecei a tremer 
                                        e, de repente, ouvi a voz de um "anjo" 
                                        as minhas costas que repetia baixinho: 
                                        
                                        "- Na barriga, Yara, na barriga".
                                        Era a minha colega Cecília Cavour, 
                                        tentando ajudar-me. E eu prontamente e 
                                        faceiramente, 
                                        fiz a tradução da frase 
                                        inteira em bom tom de voz:
                                        "O rapaz dava golpes na barriga". 
                                        
                                        O que ouvi em seguida foi uma risada geral. 
                                        Fiquei atônita, ruborizada e sem 
                                        entender. 
                                        Então a professora falou:
                                        - Yara, desde quando "barricade" 
                                        é barriga?
                                        A tradução correta era: 
                                        
                                        "O rapaz dava golpes na multidão"
                                        (no sentido de barreira).
                                        Quase morro de vergonha e tive vontade 
                                        de chorar e sair dali correndo, mas segurei 
                                        as pontas! 
                                        O restante da tradução, 
                                        fiz corretamente, mas não consegui 
                                        a nota 100, devido aquela "barriga", 
                                        naquela bendita prova oral!