Volta MENU                      Volta ÍNDICE CIRANDAS


Esta ciranda surgiu da idéia de homenagearmos nossas tias que marcaram presença nos nossos dias, enriquecendo-nos com carinho, afeto, cuidados, bom humor e histórias incríveis e, seus contos e feitos preciosos, ficaram perpetuados nas nossas lembranças.

Marilena Trujillo, Nadir D'Onofrio, Alberto Peyrano, Enei Motta, Antonieta Manzieri, Simone Pinheiro, Malu Mourão, Faffi, Iranimel, Luisa Fernandes, Eme Paiva, Luz Sampaio, Nancy Cobo, Naidaterra, Ógui Mauri, Marcial Salaverry, Thaís Francisco, Tere Penhabe, Augusta Schimidt, Carmen Vallet.

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Obs.1.: Os textos e poesias foram inseridos
nesta Ciranda, por ordem de chegada.
Obs.2: As imagens que decoram esta ciranda são apenas
ilustrativas. Qualquer semelhança é mera coincidência.

Minha querida Tia Chichica!
(Yara Nazaré - 27/08/2008)

Naquele tempo, nós, crianças, dormíamos cedo, lá pelas 19h00. Mas minha tia, quando ia tomar conta de nós, na nossa casa, dava sempre um jeitinho de prolongar esse horário, para contar as suas histórias de "alma do outro mundo" e para que não ficássemos com medo, mandava colocar um grampo preso atrás no nosso cabelo para que as almas não pertubassem nosso sono. E o melhor é que não sentíamos medo algum na hora de dormir. Durante as histórias dela, ficávamos todos amuquecados e tão intertidos que não se ouvia um papoco e não havia arenga entre nós. E é dela a história da "Dona Não Se Pode", aquela alma de mulher jaburu, toda sibite, tão alta e cheia de berimbelos que espichava mais do que um poste de luz e se esgueirava por qualquer fresta das portas ou janelas para pegar crianças acordadas e estava sempre avexada. Para levá-las sem barulho, fazia com que cheirassem uma solução feita com seivas de plantas silvestres que ela colocava em um lenço branco de linho. E as crianças que ela levava, passavam a ser réplicas dela. Ai, que medo sentíamos da "Dona Não Se Pode" e das "DonasNãoSePodezinhas", pois minha tia dizia que as novinhas roubavam mais crianças que a "Dona Não Se Pode" velha, pois tinham mais sustança! E minha tia dizia que a "Dona Não Se Pode"... "era tão feia, tão feia que fazia tiro de canhão dobrar esquina"! E ríamos muito quando ela arremedava a "Dona Não Se Pode" nos arrudiando. Nunca vi minha tia enfezada!
E todos nós, seus sobrinhos, a amávamos e adoravamos estar na sua companhia!

(Texto baseado na crônica, "Dona Não Se Pode" - 05/05/2002, de minha autoria que se encontra no link: Minhas Crônicas, aqui no meu site).

Vocabulário nordestino:
. Amuquecado: quieto/ . Arenga: briga
. Sibite: Muito magra/ . Intertido: distraído
. Papoco: barulho/ . Jaburu: mulher feia
. Berimbelos: adereços, enfeites/. Espichar: esticado
. Avexada: com pressa/ . Sustança: vigor, energia
. Arremedar: Imitar/ . Arrudiar: Dar a volta/
. Enfezada: zangada.

Tia Alzira
(Marilena Trujillo)

Alzira, era esse o seu nome.
Tia nota mil estava ali...
Jeito de menina num corpo de mulher
Maluquinha e arteira como eu...
Seu sorriso infantil, eu jamais esqueci.

De quantas surras enormes me livrou?
Ah!... Foram muitas, inúmeras vezes!
Ela era meio mística, meio adivinha...
Nossos passeios e viagens eram sempre,
Longos e cheios de mistérios e duendes...

Tia Alzira... Foi a minha segunda rainha...
Era a irmã mais velha, da minha mãezinha!
Para ela... Todos os dias eram dias de festa.
Fazia minhas roupas e das minhas bonequinhas.
Tia Alzira foi enfim... Minha fada madrinha!
Mary Trujillo
03.03.2008

Tia Margarida

(Nadir A. D'Onofrio - Santos/SP - 21/01/2005)


Tia Margarida,
Seu verdadeiro nome era Maria.
Que saudade sinto de você,
era bronca à todo instante,
marcação cerrada... nem namorar eu podia.
Quantas vezes desejei que, você
nesse planeta não existisse...
Se eu não quisesse almoçar,
ahhh, fraquinha, magricela ficaria.
Quando de chocolate me lambuzava...
ahhh, gorda e feia ficaria...
Sentar-me... só com pernas cruzadas,
mostrar a calcinha não podia.
Batom... prá quê ela dizia...
vai chamar atenção da rapaziada.
Calças compridas e justas
eu estava procurando ficar "falada"...
Um dia, pegou um livro que eu lia,
fazendo o maior escândalo,
Repetia sem parar...
Imagine... menina você só tem 13 anos...
Deixe de ler essas besteiras,
queimou uma obra prima!

Era implicante essa minha tia...
Ah, lembrei-me o título do livro,
"MESSALINA".



TIA QUIRIDA
(© Alberto Peyrano - Buenos Aires, Argentina)

Si ocê ta mi iscutano,
ti agradeço du riso
i dus refresco que ocê trazia
pracinha insolarada,
quano nossa legria
si espaiva nas tardi di verão.

Ti agradeço o chá quentinho
Pertim da larera quandu tava frio.
Ti agradeço dus passeio que a gente fazia
nas rua di uma Buenos Aires qui nóis amava.

Ti agradeço, a vida pertim da minha!
Ti agradeço dus segredim que ocê contava,
Dus teu sonho di mocinha caipira
Qui mi contava no pé do parrerar
Das magua iscundida qui nunca mi falava
Mai qui sempre eu via nus teu zóio
Cumu quem dá um dimoradu adeus...

Brigadim, Tia quirida!!!!
Chego perto di ocê cum bejo pertim das nuve...
Lá adonde sei que ocê ta sempri mi oiando.

Minha Tia
(Enei Motta)

Quisera voltar um dia
Aos bons tempos de criança
Na casa da minha avó...
Tinha jogos, tinha plantas...
Tinha até pé de abricó...

Tinha uma tia querida
Que também chamava de vó
Essa tia divertida
Fazia jogos com a gente
E com tantas brincadeiras
Só nos deixava contentes

Inventava brincadeiras
E piadas de montão
No meio de todas elas
Tinha até o palavrão...

Hoje vejo minha tia sentada,
Numa cadeira... sozinha...
Sem conhecer...sem falar...
e nenhuma piadinha

Ao ver minha tia querida
Como dói meu coração!
Minha tia está acometida
Da doença do alemão (Alzheimer)
Hoje não diz mais nada
Nem sequer um palavrão!!!!

Querida tia Lucinha
(© Antonieta Elias Manzieri)

Olho antigas fotos e sinto uma saudade imensa...
Você está com mais de oitenta anos e com disposição de uma quarentona! Ensaios na quarta, chá com amigas na quinta, baile da saudade na sexta e, no sábado... haja fôlego!
Parece que foi ontem, quando nos sentávamos para comer bolo de fubá e contar piadinhas inocentes, que época boa...
Lembro que papai ficava danado da vida com nossas brincadeiras, mas nos sabíamos que às escondidas, ele acabava rindo muito com nossas bobagens. Nunca vou esquecer o que você aprontou no sítio do Zé Caetano (risos). A ocasião era propícia e todos sabiam que ele morria de medo de fantasmas. Não é que você resolveu aprontar das suas? Enfarinhou o rosto e colocou a mão no gelo, sorrateiramente aproximou-se do pobre infeliz segurando-o pelo braço. Tive um acesso de riso, mas confesso que senti pena do coitado. Ele queria gritar e a voz não saía. Tia, ele molhou as calças de tanto que tremia, lembra disso? São tantas histórias, que ficaríamos horas e horas relembrando o tempo feliz que compartilhamos. Por essas e tantas outras lembranças, é que a amo tanto e peço a Deus para que ao chegar a sua idade, eu seja igualzinha a você!

Meu tio Emprestado!
(Simone Borba Pinheiro)

Tinha lá meus 11 anos e fiquei muito feliz em poder passar uns dias na casa de meus tios, em outra cidade.
Era emocionante a idéia de viajar, sem meus pais por perto, uma "grande aventura", na verdade.
Meu tio trabalhava no departamento autônomo de estradas de rodagem e foi me buscar, onde eu morava, para passar uns dias com eles.
A viagem em si, já foi muito bacana, meu tio sempre foi muito querido comigo, ele era cunhado de minha mãe, por isso mesmo, um "tio emprestado".
Passei duas semanas em Bagé com meus primos, que eram muitos, aprontando todas, cada dia inventávamos uma peraltice nova, para tristeza de minha tia, que ficava furiosa e colocava todo mundo de castigo, mas quando meu "tio emprestado" chegava, era só alegria, sabíamos que o castigo iria acabar, pois ele em tom calmo, despreocupado, dizia alegremente:
- Deixa as crianças se divertirem...
Ao final dessas duas semanas, houve uma enchente muito grande, causando muitos estragos e estavam interditando as estradas, então meu pai, foi me buscar de trem, uma maria fumaça de causar inveja!
Essa foi outra aventura magnífica que guardo no coração e conto em outra ocasião.
Uma viagem de trem com meu pai querido.

O BATON DE TIA MARIA
(Malu Mourão - Ipu-Ce, 09/09/2008)

Saudades dos tempos idos
Da infância, que longe vão!
Lembro de tia Maria,
Com imensa emoção.
E destes tempos bem vividos,
Ainda guardo no coração
A ansiedade que sentia,
Esperando minha tia,
Com o seu baton carmim.
Pois com certeza ela vinha
Os meu lábios pintar.
E com dengosa simpatia
E seu cheiro de jasmim,
Me pintava e dizia:
- "Vai menina, desfilar!"
E então, feito uma rainha,
Eu me punha a rodopiar.


Uma "Certa" tia Bastiana
(faffi)

Tempo feliz foi aquele em que eu podia contar
com uma tia-amiga, adorável, discreta, misteriosa.
A gente ria de tudo e por tudo,
era certa em tudo que fazia e dizia.
Realizava sempre o meu sonho de consumo,
ela fazia bolinho de chuva e eu consumia tudinho.
Como era bom tê-la sempre pertinho de mim,
me dando conselhos me acarinhando, me mimando,
me ajudando a separar o joio do trigo.
Fui crescendo, casei e a minha tia continuou
por perto, me ajudando a cuidar dos meus filhos,
dando a eles o mesmo carinho a mesma atenção.
Depois, ficou cansada e foi morar com Deus
justamente no dia 25 de dezembro, viveu e morreu em festa.
Tia Bastiana, você foi uma benção na minha vida.
Esteja onde estiver saiba que
continuo te amando e agradecendo a Deus
por ter tido a sua companhia.

faffi/Silvia Giovatto
À minha tia Sebastiana.


Boas Malvadezas
(Iranimel)

Oh! Céus! Seria tão lindo
Se numa piscada do olhar
A gente conseguisse num tempo
Da adolescência voltar.

Lembro-me das brincadeiras
Que com meu irmão eu fazia
Na verdade (boas) Malvadezas
Que me deram tanta alegria!

Ele amarrava dinheiro numa linha fina
E atirava-o ao chão, na calçada,
Da janela - às escondidas -
Assistíamos nossas palhaçadas.

Quando alguém se abaixava ao chão
Para o dinheiro pegar, ele puxava a linha,
E o coitado ou coitadinha,
Ficava com cara de bobão!

Outras vezes judiávamos
Do Turco que morava na esquina minha,
Todas às noites, nós apertávamos
A estridente campainha;

Depois saíamos correndo
Para algum lugar se esconder,
Esperando que o Turco
Viesse ali fora atender.

Inocência sem maldade,
Que tanto me deu prazer!
Hoje, porém, com a minha idade
Entendo... Não se deve fazer.



Minha velha tia...
(Luísa Fernandes - 11/9/08)

Mariana era doce,
Seu nome tudo dizia...
Pela tarde os bolinhos
nos bolsos nos escondia.
Nossa mãe preocupada
Achava que pouco apetite
De seus filhos,
A doença se devia...
Mas lavando nossos bibes
depressa descobriu
que nossa tia-avó
de docinhos nos enchia.
Quase 40 anos depois
Mariana és minha TIA!

(Contributo em homenagem a minha
tia avó mater, Mariana Gaspar...)


TIA MARGARIDA VEM
PARA LANCHAR

(Eme Paiva)

Tia Margarida por duas vezes, já telefonou,
enviou um fax e um correio por computador,
avisando que a tarde vem me visitar,
comermos o bolo, que ela mesma fez.
Aproveita a deixa, fica pro jantar.
Senta-se na sala, põe-se a cochilar.
Já é mesmo tarde, fica de uma vez.

Tia Margarida quase não dormiu.
A tosse antiga, foi o que se ouviu
pela noite afora.
Pela manhãzinha ela adormeceu
Acordou as 3 para vir lanchar
Aproveita a deixa, fica pro jantar...
já é mesmo tarde, fica de uma vez
Céus! Amanhaã eu tenho que ir trabalhar!!



Segredo da tia Joanita

(Luz Sampaio)

Minha tia Joanita
Tinha um segredo guardado...
Era um velho retrato escondido
Debaixo do colchão...

Um dia, contou-me o motivo
Disse ser o velho retrato
Lembrança do primeiro amor
Aquele que conquistou o seu coração...

Fiquei toda escancarada
Ao saber de quem era o velho retrato
Disse ela ser do marido
Do tio que dormia toda noite ao seu lado...

Ela guardava o velho retrato
Pra quando ele roncasse alto
E ela não conseguisse dormir
Lembrasse dos bons tempos passados...

Foi assim que ela disse
Que o casamento durou tantos anos
Graças a esse velho retrato escondido
Debaixo do colchão...



Minha Tia

(Nancy Cobo)

Minha tia e madrinha no dia de Natal
Quis aprontar então em conjunto
Com meus primos bolaram o seguinte;
Fazer um copo Duplo de uma bebida especial
Um pouco de cada bebida alcoólica
que tinha na mesa da ceia de natal,
inclusive álcool puro foi colocado também
E pasmem era para a irmã dela, Minha Mãe beber.

Enfeitaram até com umas folhas de samambaia, rs
Mas o tiro saiu pela culatra
Minha Mãe bebeu, disse estar muito gostosa
se levantou e falou;
Como Chama essa bebida ?
Preparem outro para mim ?
Claro, a gargalhada foi geral.
Saudades...



Tia Carlota
(Naidaterra)

Tia Carlota era uma solteirona,
namorava muito, mas casar, não queria...
Tinha nos olhos uma expressão
alegre... contagiante...
Como era bom chegar as férias escolares,
eu e alguns primos passávamos alguns
dias com ela, que maravilha...
Sentávamos num tronco de árvore
esperando ansiosos as suas histórias...
Uma atriz, além de narrar, ela
imitava e gesticulava graciosamente...
Tia Carlota era quem nos defendia
e, as vezes até assumia a autoria de
algumas molecagens, era simplesmente
a nossa protetora e amiga, com
genialidade, nos fazia sonhar...
Não me lembro de vê-la triste
um só dia, vivia cantando e preparando
artes e novas histórias para nos contar,
tia Carlota, um dia envelheceu e nós
crescemos, mas mesmo assim,
ela sempre tinha um tempo para nós,
um coração cheio de coisas lindas para nos oferecer,
sempre...

TIA ZINHA
(Ógui Lourenço Mauri - 06/09/2008)

Separemos as palavras, por favor!
Tiazinha, não!... A minha é outra: Tia Zinha!
Tão parecida com sua irmã, a mãe minha
Que já partiu para o Plano Superior.

Vez por outra, bate-me forte a lembrança:
Férias na casa da tia, no Carnaval;
Melhor "Folia de Momo" da Capital,
Os desfiles de rua na Vila Esperança...

Tinha razão Mestre Adoniran Barbosa:
Em Carnaval, Vila Esperança dá show!
Trago ainda comigo o enlevo que ficou
Ao debutar na festa maravilhosa.

Tia Zinha, não me esqueço de tua acolhida,
Tampouco de tua canja na madrugada...
Quando a turma, por fim, chegava cansada
Depois de tanto se esbaldar na avenida.

Retornar à Vila Esperança, quem dera!
De lá, Tia Zinha mudou há muitos anos.
Mesmo assim, quero voltar, tenho meus planos...
Eis que a então menina, hoje mulher, me espera.


POBRE TIA MARGARIDA
(Marcial Salaverry)

Todos temos uma Tia Margarida,
para nos azucrinar a vida...
Tudo sabe, tudo conhece,
e de nós, jamais esquece...
Nossa vida quer direcionar,
sobre tudo quer orientar,
e o máximo que consegue, é chatear...
Seu grande problema,
é que sua vida é um dilema...
Nem o infeliz marido a aguenta,
tanto que ela o atormenta...
Ele prefere ficar sozinho,
e manda que ela vá chatear o sobrinho...
E lá vem a Tia Margarida,
pra nos azucrinar a vida...
De nosso pé não quer largar,
e a viver quer nos ensinar...
Pra não mandá-la plantar mandioca,
peço pra fazer pipoca...
Aí, a velha sossega,
e por instantes no meu pé não pega...
Mas a pipoca fica pronta,
e lá vem ela, e sempre apronta...
Mas... verdade seja dita,
até que é uma presença bendita...
Pois sem a Tia Margarida,
quem haveria para nos azucrinar a vida?

MINHA TIA DINDA!!
(Thais S. Francisco "beija-flor")

É com alegria que poeto
minha querida Tia Dinda
que sabia alegrar nossos corações,
com as estórias que contava
sobre Pedro Malazartes!....

Sua arte em representar, com mímicas,
as estórias que contava, nos fazia rir,
até quase perdermos o fôlego,
mas pedíamos: " Continua, tia Dinda! ...Continua"!

Papai e Mamãe, achando que já era hora de
criança ir pra cama, toc toc, faziam ,na porta do quarto,
e, tia Dinda, já ,puxando nossas cobertas, ia assim dizendo:
..."Entrou por uma porta, saiu pela outra... quem quiser, que conte outra"!...
Boa Noite!...
Tia Dinda, que saudade de você!...


"Caso verídico"

Tia Benedita
(Tere Penhabe)

Eu nunca soube a idade que ela tinha,
Porque me pareceu desnecessário,
Era bom visitar sua casinha,
Onde o riso era sempre perdulário.

O fogo crepitando na cozinha,
E o cheiro de pão doce no armário,
Dava prazer de ser sua sobrinha,
Poder estar naquele seu sacrário...

Sempre a exercitar a sua mágica,
Fazendo uma careta que era trágica,
Colhendo no café, o seu palpite...

Para ganhar no jogo, sem errar.
Sei eu lá se era mentira sem limite,
Mas sempre conseguiu nos enganar.

Santos, 14.09.2008
www.amoremversoeprosa.com

Inesquecível...
(Augusta Schimidt)

Tia Maria, com seus 72 anos de vida, nunca se casou. Nunca teve filhos e nem nunca foi avó. Mas sabia contar histórias como ela só.
Tinha o olhar doce, sorriso singelo e amor de mãe–avó.
Era pau pra toda obra e conhecia cada pedaço de chão lá do Sítio Santa Rita. Também pudera, viveu lá por mais de trinta anos...
O Sítio Santa Rita, era quase uma fazenda de café. Digo quase porque faltava um pedacinho de terra pra virar fazenda. E tia Maria percorria todos os dias os lugares preferidos dos passarinhos, logo que o sol acordava, buscando inspiração pra contar suas historias.
Passávamos lá todos os feriados, dias santos e férias. Era uma festa.
Nas tardes friorentas das férias de julho, a melhor hora era a do café porque além de contar histórias, tia Maria sabia fazer os bolinhos de chuva mais gostosos do mundo. Parecia manjar dos anjos.
Bom mesmo era quando vinham Bete e Duca os primos de Limeira. Um dia claro era pouco para tanta brincadeira.
Logo cedinho íamos acompanhar tia Maria em suas andanças. Primeiro íamos ao curral tomar leite tirado na hora da Violeta, uma vaquinha malhada simpática mãe da bezerrinha Julieta.
Depois íamos aos galinheiros recolher os ovos das galinhas cantoras e finalmente à horta colher as verduras do dia. Voltávamos para casa com o sol já bem alto e enquanto tia Maria se ocupava de seus afazeres, fugíamos para o pomar para espiar do alto da mangueira os empregados capinando o cafezal
De vez em quando se ouvia o piar de um passarinho pedindo licença pra entrar no seu ninho.
Era tudo uma beleza. Jamais me esqueço de tanta proeza. Duca, moleque de seus treze anos, dizia ser caçador. Queria caçar as cobras que invadiam o cafezal pondo em risco a vida do trabalhador.
Só que quando uma cobra de verdade aparecia, era a maior gritaria e Duca era o primeiro que fugia.
Quando Tia Maria chamava para almoçar era o maior sacrifício ter que deixar de brincar. Mas nós íamos, porque senão era bronca na certa e daí de castigo pela desobediência nada de historias quando chegava a hora.
Depois do almoço, hora de descansar, mas nós queríamos mesmo era brincar. Então era nessa hora que tia Maria inventava os concursos de desenhos e escritas. Quem desenhasse bonito e escrevesse sem erros ganhava um presente que ela mesma fazia.
Bem na porta da varanda que cercava toda a casa, havia dois abacateiros amparando uma grande rede. Era o lugar preferido de tia Maria nas suas horas de repouso. E entre um cochilo e outro embalada pelo canto do sabiá, nos observava e nos ensinava a brincar.
Na terra limpinha e fina, fazíamos de tudo. Com um galho de árvore na mão quase bordávamos o chão. E ai de quem por ali passasse e estragasse a nossa obra. Afinal, era dali que sairia o maioral. Mas tia Maria, com sua doce sabedoria sempre escolhia os três. Era melhor o empate pra não acabar em combate.
Ali passávamos boa parte da tarde e quando o galo anunciava que o sol já ia embora era a hora sagrada. Sim porque hora de ouvir história é sempre sagrada. Até o sabiá do abacateiro se calava. Era um momento mágico. Parecia que entravamos numa nave e seguíamos rumo ao Mundo Encantado.
A história que eu mais gostava era a do menino Zacarias,negrinho escravo que sonhava em viajar no avião azul.
Essa história sempre me emocionava.
Assim eram os nossos dias. Sempre alegres alternados entre a cidade, escola e os feriados sempre tão esperados.
E o tempo passou...
Passou rápido demais...
E finalmente chegou o dia em que tivemos que enfrentar a dura realidade. Tia Maria não mais estaria entre nós. Foi para o céu, contar suas histórias aos anjos. Foi muito triste mas o descanso merecido. Afinal dedicou anos de sua vida a nos ensinar o bem, o amor e só nos deu felicidade.
Acho até que foi por causa dela que desatei a escrever. Queria passar para todas as crianças o presente que ganhei... A esperança.


Dona Gê...
(Carmen Vallet - 15/09/08)

- Larga o osso!!!
Dizia ela, aos motoristas de ônibus, que se encontravam com algumas amiguinhas, na esquina de casa.
Eu, minha irmã e ELA, ríamos muito, da sacada da minha casa, que ficava distante dos "namorados", uns 100 metros.
Eles olhavam assustados, porque era noite e não sabiam de onde vinha o grito.
- Larga o osso!!! Repetia ela, ao próximo pobrezinho que caia nas garras bondosas daquela senhora. Rrrsssssssss.
Ela tinha um sotaque peculiar por ser de uma cidade do sertão da Bahia.
E assim foi, por um ou dois anos. Não me recordo bem, quando terminou. Só sei que ela mudou-se
e até hoje, trago na memória a frase, os gritinhos, as noites que passávamos na varanda.
Minha mãe, é claro, não gostava, e muito menos os casais, que se separavam, ao ouvir o gritinho e ficarem com medo que as "donas da pensão" os pegasse.
É apenas um detalhe da minha infância, que eu nem sabia o que significava mas, os gritinhos e as gargalhadas,
com minha irmã e ELA, debruçadas na mureta da sacada, esses sim, trazem recordações divertidas.
AH! Se fosse minha tia mas, não...
Era minha comadre, que deixou em minha memória, momentos felizes.
Um beijo para minha Tia, Comadre,
Dona Gê.
Carmen Vallet
(Carme)

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Obrigada, pela visita!
Yara Nazaré